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5 julho 2009

Relato do monitor em cada dia do estágio
5 julho 2009

Alunos 2009

Domingo | Integração e conhecimento

Segundo dia. Após uma ótima noite de descanso, preparámo-nos para outro dia de visitas. A deceção foi grande porque acordámos para um dia extremamente chuvoso, mas mesmo assim, no horário combinado, encontrámo-nos todos na receção do hotel para discutir o que seria feito naquele dia. A proposta inicial era uma visita à Fundação de Serralves, assim como a outros lugares que poderiam ter interesse, caso houvesse tempo.

Após uma breve discussão, os alunos optaram por visitar:

  1. Museu militar
  2. Casa da Música
  3. Fundação Serralves (se não estivesse a chover, já que o trajeto seria todo feito a pé)


Museu militar

Apanhámos o metro até à Estação do Bolhão (como de costume, guiados por eles) e, na chegada ao Museu Militar, descobrimos que ainda estava fechado. Aproveitámos o mesmo passe de metro e fomos até à Estação da Casa da Música, onde optámos por uma visita não-guiada (e grátis também). Foi neste momento que aconteceu a primeira, e talvez mais importante, dinâmica de grupo da semana:

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FOTO: Todos "amarrados", em duplas, durante a visita à Casa da Música

Casa da Música

Perante uma situação onde um pequeno grupo estava claramente dividido (a Joana – única portuguesa e o seu namorado, a Célia e a Rebeca – que apesar de se terem conhecido há pouco tempo, mais pareciam irmãs, e o Guillermo e a Loli – um pouco mais isolados do resto do grupo), fiz uma proposta que foi imediatamente aceite por todos. Com a participação fundamental do Aníbal, namorado da Joana, dividi o grupo em pares de acordo com o menor grau de conhecimento e afinidade. Cada dupla amarrou-se com fios de aproximadamente 50cm e, a partir daquele momento, deveriam aprender a conviver de forma interdependente com seu parceiro.

Com os alunos amarrados, continuámos a visita pela Casa da Música. Estrutura imponente e de arquitetura única, a Casa da Música fascinou todos, principalmente a Célia, fortemente interessada em música e tecnologia. No final da visita, tivemos uma breve conversa que serviu para reforçar o caráter de voluntariado da dinâmica (qualquer um poderia desistir a qualquer momento) e para lembrar que esta seria uma dinâmica longa, com objetivos que seriam identificados gradualmente por todos.

Admito que, a princípio, foi um pouco difícil até para mim. Os seus rostos transpareciam indagação e insatisfação, apesar de enfaticamente dizerem que estava tudo bem. Ao perguntar-lhes a sensação de estarem amarrados, ainda na Casa da Música, todos afirmaram estar confortáveis, apesar da linguagem corporal dizer o contrário.

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FOTO: Impasse entre o Guillermo e a Rebeca, seguidos pela Célia e Joana

Fundação Serralves

Prosseguimos então para o próximo destino, agora já com uma maior participação de todos. Ao início, por estarem um pouco incomodados pelas duplas forçadas e indesejadas, nem se preocuparam em discutir para onde iríamos a seguir. Logo pararam e o diálogo começou a fluir. O nosso próximo destino seria a Fundação de Serralves.

Após longos minutos de caminhada, ainda amarrados, chegámos à Fundação de Serralves. Aos domingos, até as 14h00, a entrada é gratuita, pelo que aproveitámos a oportunidade. Primeiro, os estagiários optaram por visitar os jardins da Fundação. As belas esculturas e o verde dos jardins inspiraram-nos para uma breve pausa para descanso. Nesse momento aconteceu o primeiro impasse declarado entre uma dupla amarrada: o Guillermo queria sentar-se e a Rebeca não…

Depois de resolvido o impasse de forma divertida e rápida, todos aproveitámos para descansar e conversar um pouco. Era o momento ideal para começarmos a refletir sobre as sensações resultantes da dinâmica dos que foram amarrados, e sobre o trabalho em equipa que realizariam durante a semana.

Expressões como “falta de independência”, “incómodo” e “estranho” foram utilizadas para descrever como se sentiam em relação ao facto de terem sido amarrados uns aos outros. Era já percetível que pessoas que até então nunca haviam conversado (e nem demonstrado interesse em fazê-lo), estavam a interagir dada a falta de opção que as amarras proporcionavam.

Começámos também a discutir a importância do trabalho em equipa e como isso é fundamental para a realização de um ótimo trabalho no mundo organizacional, especificamente, no caso dos alunos, para a realização de um excelente trabalho em equipa no Plano de Negócios que deveriam criar e apresentar até o final da semana. Discutimos os prós e os contras sobre diversas formas de selecionar as equipas de trabalho, que deveriam ser duas (uma com três elementos e outra com dois): ou seria feita uma votação, ou o monitor (neste caso, eu) fazia a seleção, ou então fazia-se uma auto-escolha após conversas e discussões. Por fim, eles optaram pela segunda hipótese, pelo que fiquei eu responsável pela seleção, baseando-me nas impressões e perceções que tinha de cada um. Combinámos que as equipas seriam definidas mais tarde durante o jantar.

Por esta altura, decidi por mudar as duplas amarradas. Como as primeiras duplas já estavam suficientemente integradas, achei que seria melhor mudá-las para que os todos interagissem com as pessoas com quem ainda não tinham convivido tanto. Esta mudança ocorreu sem problemas, tendo sido a adaptação mais rápida e melhor aceite.

Uma vez que começou a chover decidimos acabar com a pausa para descanso e continuar com a nossa visita pelos jardins. Após algum tempo e algumas fotos, fomos almoçar ao edifício do museu (os espanhóis costumam almoçar por volta das 15:00 e, ao contrário da Joana e do Aníbal, não tinham nem um pouco de fome às 14:00 – mas mesmo assim, em consenso, fomos todos comer). Depois de descobrir que o preço do restaurante extrapolava o limite orçamentado para o almoço, optámos por comer no bar da Fundação. Depois de pedirmos e esperarmos pela comida, deu-se um dos momentos mais importantes da semana: o primeiro jogo de cartas…

Os espanhóis propuseram e explicaram dois jogos e, durante aquele momento de descontração, eles passaram a conversar com os restantes alunos de forma mais aberta e natural. As amarras, ainda presentes, pareciam apenas já uma pequena barreira e um incómodo quando, sem querer, alguém distribuía as cartas e não se apercebia que o companheiro estava com a mão distante. Após o intervalo e três jogadas de cartas (eu fiquei em 2º lugar em duas delas :-) ), continuámos com a visita ao museu.

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FOTO: Já mais integrados, no museu da Fundação Serralves

Admito que até era engraçado ver a reação das pessoas quando passavam os alunos, amarrados uns aos outros em pares durante a visita ao museu. Eles já nem se preocupavam com as outras pessoas. Na verdade, eles pareciam estar amarrados entre todos os seis por caminharem sempre num único grupo. As brincadeiras começaram logo a surgir e com isso também alguns constantes avisos como: “não toquem nada” .

Inspirado numa das fotos acima: lembram-se como surgiu a garrafa de Coca-Cola? E porquê? O que é que isso tem a ver com a inovação?

Regresso ao Hotel

Continuámos a visita pelo museu. No final, regressámos ao hotel, só que, desta vez, o caminho pareceu-nos muito mais curto. Agora todos conversavam e brincavam, o que contrastava com as caras carrancudas do início. As amarras, fiéis companheiras, ainda estavam presentes. Um pouco antes de sairmos da Fundação Serralves, voltei a trocar os pares, apenas para cada um ter a oportunidade de estar com alguém que ainda não conheciam tão bem. A partir de carta altura, já todos conversavam entre si.

Eles já caminhavam como se não estivessem amarrados. Instintivamente respeitavam o(a) companheiro(a) e as amarras já não eram um fator limitador. Ao chegar à Rotunda da Boavista, parámos para uma breve conversa e para refletirmos de novo sobre a dinâmica. Era o momento de os “libertar”.

Os objetivos da dinâmica, relatados por eles próprios, foram atingidos: uma integração mais rápida e respeito pela outra pessoa. Expressões como “preocupação com o outro”, “liberdade” até a “liberdade do outro”, entre outras, foram representativas da importância de passar um dia amarrado a outra pessoa. Este foi um dia que provou ser uma parte importante na integração de um grupo que terminaria a semana como se já se conhecesse há anos.

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FOTO: Todos juntos, determinados a atingir o objetivo proposto durante o jantar.

Jantar

Com o shopping fechado, procurámos outras alternativas. Encontrámos um restaurante próximo e do agrado de todos em frente ao Hospital de São João. Nessa altura, lancei um desafio imediatamente aceite por todos: a conta final deveria estar dentro dos limites estipulados e eles deveriam escolher um prato do meu agrado para mim, sem eu me manifestar. Após alguma discussão em grupo e alguns cálculos, eles fizeram o pedido. Comi Picanha Brasileira, uma escolha relativamente segura…

No fim do jantar, discuti com cada um a formação das equipas. Ao final da noite, já no hotel, comuniquei aos alunos qual seria a formação das duas equipas e discutimos brevemente.

Final do segundo dia. Novamente cansados, mas já com a perceção do que seria feito no decorrer da semana.